Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos EUA, reiterou mais uma vez a posição do banco central em relação ao Bitcoin, afirmando firmemente que a Reserva Federal está legalmente proibida de possuir Bitcoin ou de deter uma reserva de Bitcoin. Os seus comentários foram feitos durante uma conferência de imprensa após a reunião do Comité Federal de Mercado Aberto (FOMC), onde a Fed anunciou um corte de 25 pontos base nas taxas de juro.
Powell explicou que o atual quadro jurídico não autoriza a Reserva Federal a adquirir ou gerir Bitcoin, deixando claro que o banco central não está interessado em prosseguir quaisquer alterações legais que lhe permitam criar uma reserva de Bitcoin. Salientou que o banco central dos EUA não vê qualquer necessidade de gerir o Bitcoin como parte das suas operações de política monetária ou de posse de ativos. Estas observações foram, em grande parte, uma reafirmação da posição da Fed em relação aos activos digitais, que tem sido consistente nos últimos anos.
Esta não é a primeira vez que Powell faz estes comentários. Manifestou repetidamente o desinteresse da Fed em manter Bitcoin em reuniões anteriores pós-FOMC, afirmando que o papel do banco está focado nas políticas monetárias e nos sistemas financeiros tradicionais. No entanto, as observações de Powell desta vez podem ter atraído atenção extra devido ao momento das suas declarações. Com a recente eleição de Donald Trump como 47º Presidente dos Estados Unidos, Trump propôs a criação de uma reserva estratégica nacional de Bitcoin como parte da sua agenda de política económica. Este plano ganhou um apoio significativo de alguns legisladores, como a senadora Cynthia Lummis, e de várias figuras da indústria das criptomoedas. A proposta de Trump visa garantir um stock de Bitcoin gerido pelo governo dos EUA, que defende que poderá servir como um importante ativo financeiro para o país.
No entanto, os comentários de Powell realçam o ceticismo e a cautela das instituições financeiras tradicionais em relação à integração das criptomoedas nas reservas nacionais. Alguns especialistas, como Nic Carter, sócio fundador da Castle Island Ventures, manifestaram a sua preocupação de que a criação de uma reserva de Bitcoin gerida pelos EUA possa minar a confiança no dólar norte-americano. Estes críticos argumentam que tal medida poderia levantar dúvidas sobre a estabilidade do dólar e a sua posição como a principal moeda de reserva mundial. Acreditam que misturar o Bitcoin, um ativo altamente volátil e especulativo, com a política monetária nacional poderá destabilizar o sistema financeiro.
Os comentários de Powell ocorreram num momento de maior volatilidade nos mercados de criptomoedas, com o Bitcoin a registar um declínio notável após a decisão da Fed sobre a taxa de juro. O Bitcoin caiu 2,1% uma hora após os comentários de Powell, caindo para cerca de 101.400 dólares no momento em que este artigo foi escrito. Este movimento de preços foi ainda influenciado pela redução das taxas de juro por parte da Fed, que é vista como parte da estratégia do banco central para estimular o crescimento económico e conter a inflação. Apesar da decisão da Fed, o mercado respondeu com cautela, especialmente no contexto da contínua relutância de Powell em adotar o Bitcoin ou outros ativos digitais como parte da estratégia do banco central.
Em resumo, embora a posição de Powell em relação ao Bitcoin não seja nova, o contexto político e económico em que os seus comentários foram feitos trouxe uma atenção adicional ao tema. Com propostas como a reserva nacional de Bitcoin de Trump a ganhar força, o debate em torno do papel das criptomoedas nos sistemas financeiros nacionais irá provavelmente continuar. No entanto, a Reserva Federal mantém-se firme na sua posição de que o Bitcoin não pertence à sua carteira de ativos, alegando preocupações jurídicas e práticas.